terça-feira, 24 de novembro de 2009

A origem do Amor



Quando a Terra ainda era reta E nuvens feitas de fogo E montanhas iam até o céu, Às vezes além... Povos vagavam a Terra como grandes barris rolantes. Eles tinham dois pares de braços, Eles tinham dois pares de pernas. Eles tinham dois rostos saindo de uma cabeça gigante. Então eles podiam ver tudo envolta deles Como falavam; enquanto liam E eles não sabiam nada de amor. Isso foi antes da origem do amor. A Origem do Amor

E eram três sexos então: Um que parecia como dois homens, Grudados pelas costas, Chamados de filhos do sol; E em similar forma e cinturão. Eram os filhos da Terra, Eles pareciam duas garotas enroladas em uma; E os filhos da lua, Eram como um garfo impulsionado em uma colher, Eles eram parte Sol, parte Terra, parte filha, parte filho. A Origem do Amor

Agora os deuses ficaram um pouco assustados Com nossa força e intimidação.
E Thor disse "Eu vou matar todos com meu martelo Como matei os gigantes".
E Zeus disse "Não, É melhor deixar-me usar meus raios como tesouras, Como cortei as pernas das baleias, E dinossauros em lagartos". Então ele pegou alguns parafusos E deixou escapar uma risada. Disse "Eu os dividirei bem ao meio. Vou cortá-los bem na metade". E nuvens de tempestade se juntaram acima Em grandes bolas de fogo.

E o fogo caiu do céu em bolas Como lâminas lustradas de uma faca. E rasgaram direto pela carne Dos filhos do Sol e da Lua e da Terra. E algum deus hindu costurou o ferimento Em um buraco (o umbigo). Colocou isso em nossas barrigas Para lembrar do preço que pagamos. E Osiris e os deuses do Nilo Fizeram uma grande tempestade Para soprar um furação Para nos separar Sob a chuva E um mar revolto Para nos levar para longe. E se não nos comportamos Vão nos cortar de novo E iremos andar sobre um pé E olhar por um olho.

A última vez em que lhe vi Nós tinhamos acabado de nos separar Você estava olhando para mim E eu para você Você tinha um jeito tão familiar Mas eu não pude reconhecer Porque tinha sangue em seu rosto E eu nos meus olhos Mas poderia jurar pela sua expressão Que a dor em sua alma Era a mesma que a da minha É a dor Que corta uma linha pelo coração Nós chamamos de amor Então nos envolvemos nos braços um do outro Tentando juntar nossas almas de volta Nós estávamos fazendo amor, Fazendo amor, Foi a fria e sombria noite há muito tempo atrás Quando pela força da mão de Javé (zeus) Essa foi a triste história de como viramos Solitárias criaturas bípedes É a história A Origem do Amor .

Essa é a origem do amor

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Rifando...


Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

Clarice Lispector

terça-feira, 17 de novembro de 2009

AUTOPSICOGRAFIA



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

sábado, 14 de novembro de 2009

Maiúsculo



Ultimamente tenho me dedicado muito a ouvir músicas de épocas diferenciadas, na busca por conhecer jeitos diferenciados de compor e de entender os sentimentso dos compositores.

Esta semana, descobri um DVD muito interessante "meninas do Brasil", e nele uma música em especial me chamou a atenção. Letra nua, de fácil entendimento e muito realiasta. Gostei horrores.... tanto qu e ela está abaixo.

Como é maiúsculo
O artista e a sua canção
Relação entre Deus e o músculo
Que faz poderosa a sua criação
Pensando bem
É um mistério
Como é misterioso o coração

Como é minúsculo
O olhar de quem vive no escuro
Um sujeito malvado e burro
Alguém machucado como não ter um bem
Não tem porém
Mas tem um tédio
Não ser vítima do assédio de ninguém

Quase não dorme
Vive ao avesso
Medo conhece bem
Sem endereço
Como é que pode
Não fazer mal também

Tenho meus vícios
Vivem dentro de mim esses bixos
São o pai e a mãe dos meus lixos
E às vezes me levam de mal a pior
Pergunto quem
Não sabe disso
Os momentos em que a vida não tem dó

Solto meus bixos
Pelas músicas quando me aflijo
Mas um homem sem esse feitiço
E sem um carinho a que recorrer
Pode matar
Querer correr
Pois perdeu todo sentido de viver