Hoje estou lascivo - e certamente serei julgado pelo que escreverei (mesmo que este texto seja apenas uma explanação de minhas conjecturas pessoais). mas, aí vai.
Os sentimentos são vinculados à existência humana e esta, por sua vez, não se vincula somente a si própria. Logo se entende que o sentimento, ou o conjunto deles, é o ponto centrípeto ao qual o homem se dirige para garantir a sua própria essência.
De certo que se assim não o fosse, estaríamos imersos no cálice da solidão para desfrutar o suco amargo das vinhas do egoísmo e, conseqüentemente, teríamos o fim da epopéia humana sobre a terra. As pessoas não se encontrariam nem se uniriam umas às outras, garantindo, desse modo, por exemplo, a procriação e a sobrevivência da própria espécie. Mas não estou aqui para defender teorias, ou mesmo criar as minhas próprias. Só quero vomitar verborragicamente alguns “sentimentos”.
Lendo Santo Agostinho, com suas divagações, eu sempre encontro coisas bonitas, de cunho religioso, mas que na realidade é sentimento puro transfigurado em sílabas fortes as quais podem marcar um ser intensamente. E disse o santo: "Teu desejo é a tua oração; se o desejo é contínuo, também a oração é contínua. Não foi em vão que o Apóstolo disse: Orai sem cessar (1Ts 5,17). Ainda que faças qualquer coisa, se desejas aquele repouso do Sábado eterno, não cessas de orar. Se não queres cessar de orar, não cesses de desejar."
Mas onde quero chegar com isso?
De forma genérica, os sentimentos são informações que os seres biológicos são capazes de sentir mediante as situações que vivenciam.
Diariamente encontramos pessoas, em todos os lugares, que nos fazem sentir algo, seja bom ou mal; agradável ou detestável; beleza ou asco; tristeza ou felicidade; prazer ou dor, etc.. E cada um é responsável pelo que sente a partir do que lhe foi transmitido. Daí, volto para as palavras de Santo Agostinho: "Tens o que oferecer. Não examines o rebanho, não apresentes navios e não atravesses as mais longínquas regiões em busca de perfumes. Procura em teu coração aquilo que Deus gosta." O santo dá uma dica clara: que não precisamos ir buscar coisas ao longe porque as temos mais perto do que imaginamos. Basta que compreendamos o que temos para compartilhar.
Será que sabemos o que temos dentro de nós para oferecer hoje? O que temos oferecido ultimamente, nas horas finais do dia anterior, por exemplo. Sabes dizer? Somos conscientes dessa oferta? E como será que essa sentimental oferenda é captada, entendida e aceita (ou rejeitada) pelos outros?
Se desejo é igual à oração, o que seria a realização do desejo? Um contato direto com Deus? Um contato direto como o sentimento? Ou, ainda, seria um simples contato com a carne para satisfazer uma necessidade? Isso tudo levaria o nome de prazer?
O prazer é uma rara substância de fórmula sentimental esquecida, gerada no inicio dos processos evolutivos deste mundo. Não sei se fora escondida por um sábio, mas apenas se registrou uma falsa nota dizendo que "crescer era sofrer", e assim o prazer ficou escondido nas masmorras sombrias do erotismo – para lhe servir com o criado. O pior é que com o passar dos tempos, mesmo com a evolução, nós ainda acreditamos nisto, mesmo e mantemos o prazer escravo do erótico! Bom, aí começamos a inventar. E o Ser Humano é sempre criativo! (pra confirmar o que eu digo - vá no google e digite PRAZER no link de imagens...e me diga se não tenho razão. Só aparece erotismo). Vou até colocar umas imagens par confirmar isso.
EU,PARTICULARMENTE, ACREDITO QUE O PRAZER NÃO UM SENTIMENTO (OU MESMO UM ESCRAVO). MAS SIM, UM BEM, CRIADO PELO DESEJO QUE SURGE DESSA OFERTA DIÁRIA DE SENTIMENTOS. PORQUE SE ASSIM ELE NÃO O FOSSE, COMO SE EXPLICARIA O FATO DE TODOS – NÃO SOMENTE OS HUMANOS – O DESEJAREM TANTO? COMO EXPLICARIA O FATO DE MUITOS VIVEREM EM FUNÇÃO DELE SE REALMENTE NÃO FOSSE UM BEM?
O fato é que as pessoas de hoje só conseguem ver o prazer na sua forma sexual. O que é uma pena!
As refeições, por exemplo, deveriam ser verdadeira fontes do prazer onde. Pois os alimentos passaram por uma cuidadosa seleção antes de serem preparados, e eles representam muitos deleites: o deleite do paladar, o dos olhos, o do olfato,. Isso sem falar nos instantes em que partilhamos alegrias, descobertas e ouvimos quem conosco a celebra. Com tanta coisa fantástica, como iremos convertê-la em sofrimento? Por que não admitimos logo que estamos perdendo a amplitude do sentido do prazer? Porque insistimos em colocar o prazer como premio da mecânica na execução de um ato sexual?
Os sentimentos e suas interpretações, definitivamente, podem ser compreendidos como um portal para a ilha do prazer. Muitas vezes as pessoas se perdem ali. E não encontram saídas.
Por isso o meu entendimento sobre os sentimento s é cauteloso, codificado de acordo com as situações. E o meu prazer contempla o meu equilíbrio, minha a sensatez e muitas vezes a minha irreverência. Por isso, cada vez que eu coloco o pé fora de casa e encontro qualquer pessoa na rua, este encontro vira um fruto na minha reflexão cuidada e conjunta, de forma a espelhar uma maior qualidade no entendimento geral do prazer a partir do que pode ser sentido. É liberdade, nunca libertinagem.
No entanto, fazemos gala de sair várias vezes por semana, com a nossa melhor indumentária, na procura do melhor papel de embrulho para usarmos. Afinal de contas, o que conta mesmo "é a primeira impressão" (outra jóia das nossas programações sociais manipulativas e redutoras!) e o resto logo se vê.
O prazer sempre me dá a liberdade de mudar, seja na forma de agir com atitude ou na maneira de compreender os sentimentos. O prazer também mostra que a vida pode ser igual e diferente, ao mesmo tempo, das coisas que assistimos pelos plasmas da TV ou do que encontramos nas páginas das revistas.
Em particular, por exemplo, o meu prazer eu despejo nas minhas crias! O meu prazer eu o tenho quando olho belos lábios; quando me sinto tocado por olhos que me afogam; quando o toque me avisa que o vulcão está explodindo por baixo da pele e que o sangue ferve em lavas – por mim; quando um sorriso pode quebrar a casca rígida e grossa de um dia turbulento.
O meu prazer está, sobretudo, no estar vivo para poder “sentir” com estilo. Com o meu estilo. Mas é difícil agüentar a pressão do ambiente sexy-social com seus variados ingredientes, que podem atingir picos máximos da revelação nos encontros. Sim, porque na fotografia da vida o prazer extraído com relacionamentos são de fato o revelador da obra de arte! E na nossa suprema (in)consciência ainda temos a "lata" de divulgar e de nos vangloriarmos com a exposição fotográfica!
Sem pesar algum ou dúvida os sentimentos são a via (de mão única) para prazer. E nessa via se gasta muito menos energia!